Juiz da Suprema Corte americana dispara contra Big Techs: ‘É sem precedente o controle de liberdade’
O juiz da Suprema Corte Americana, Clarence Thomas, advertiu as empresas de mídia social nesta segunda-feira (5) sobre o que considerou ser um “controle de liberdade sem precedentes” contra os usuários.
A declaração do juiz escrita em um documento de 12 páginas foi feita durante a discussão de um processo do tribunal federal de apelações que acusava o ex-presidente Donald Trump de ter agido de forma ilegal ao bloquear seus críticos no Twitter.
O tribunal alegava que a atitude de Trump impedia os cidadãos de participar de um fórum público, violando os seus direitos à liberdade de expressão previstos na Primeira Emenda da Constituição americana.
Clarence Thomas concordou que, de fato, a conta de Trump era um espaço público, não cabendo ao ex-presidente o bloqueio de usuários. Por outro lado, pontuou que qualquer tipo de controle que Trump tenha exercido era irrelevante comparado com a autoridade do Twitter de remover a conta “por qualquer ou nenhum motivo”, como fez em janeiro deste ano.
“Qualquer controle que o Sr. Trump tenha exercido sobre a conta, empalideceu em comparação com a autoridade do Twitter, ditada em seus termos de serviço, para remover a conta ‘a qualquer momento por qualquer ou nenhum motivo’”, escreveu Thomas.
A Suprema Corte determinou que o tribunal arquive o caso agora que Trump não é mais presidente. Essa ação impede que a decisão do tribunal federal de apelações sirva de precedente para casos futuros.
“As plataformas digitais de hoje fornecem caminhos para quantidades de discurso sem precedentes históricos, incluindo o discurso de atores do governo [políticos]. Também sem precedentes, no entanto, é o controle de discurso nas mãos de algumas partes privadas”, disse Thomas em seus comentários.
“Em breve não teremos escolha a não ser abordar como nossas doutrinas jurídicas se aplicam a infraestruturas de informações privadas altamente concentradas, como plataformas digitais”, acrescentou.
Para Clarence Thomas, as plataformas de tecnologia deveriam ser regulamentadas como “serviços públicos”, o que implicaria uma grande mudança para serviços como Facebook, Google e Twitter.
O juiz compara as redes sociais com meios de transporte e com a telefonia, dizendo que existe interesse público em não discriminar o que é transportado. Na telefonia, por exemplo, existe o transporte de informação.
“Existe um argumento justo de que algumas plataformas digitais são semelhantes a transportadoras ou lugares de alojamento para serem regulamentadas desta maneira [como espaços públicos]”, escreveu o magistrado.
Thomas ainda considera se as empresas de mídia social deveriam continuar recebendo proteção legal do governo conforme prevê a Seção 230 da Lei de Decência nas Comunicações ,e lamenta que o caso em questão não permita que o tribunal trate o assunto por completo.
“Como o Twitter deixou claro, o direito de interromper discursos é forte nas mãos das plataformas digitais privadas. Até que ponto esse poder é importante para os fins da Primeira Emenda e até que ponto esse poder poderia ser legalmente modificado, levantam questões interessantes e importantes. Esta petição, infelizmente, não nos dá oportunidade de confrontá-los”, concluiu Thomas.
Pelas leis dos EUA, os autores de publicações podem ser responsabilizados por qualquer conteúdo que postem, mas as plataformas de mídia social e empresas de tecnologia são protegidas pela Seção 230 da Lei de Decência nas Comunicações, que fornece proteções gerais de responsabilidade de conteúdo gerado por terceiros.
Com informações da CNBC